segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Uma obra de uma acutilância deveras pertinente nos tempos que correm...

Luís Corredoura, apresentou na passada quinta-feira, o livro "Os Grandes Ditadores da História", da autoria de Pedro Rabaçal, e hoje dá-nos a sua apreciação sobre a mesma.
 
 
""Os grandes ditadores da História", da autoria de Pedro Rabaçal - ed. Marcador - é uma obra de uma acutilância deveras pertinente nos tempos que correm, visto este fenómeno "egocêntrico" das ditaduras estar longe de ser algo pertencente a um pretérito distante.

Atente-se tão-só no mundo actual, nos seus problemas e dilemas económicos, sociais e morais - sendo praticamente impossível destrinçar uns dos outros - e na forma como nós, os ditos "ocidentais", os garantes dos valores democráticos, estamos a enfrentá-los, nomeadamente quem tem o dever de zelar por isso depois de ter sido democraticamente eleito para tal, para se ficar com a preocupante noção que algo vai mal no mundo supostamente civilizado.

Com a leitura desta obra fica-se com a estranha sensação de a questão "rousseana" do "contrato social" ser bastas vezes letra morta, na verdadeira acepção do termo, ou o seu sentido completamente deturpado em benefício de uns quantos nas mais diversas sociedades actuais, ameaçando suceder o mesmo nas nações que são o paradigma das liberdades dos indivíduos.

Perante estes cenários, é normal as pessoas, desiludidas e desencantadas, procurarem então alternativas políticas, chegando mesmo a deixar-se seduzir por certas promessas verdadeiramente delirantes quando a sua situação raia o desespero. É nestas ocasiões que surgem os "arautos" da virtude - veja-se o que sucedeu na Rússia em 1917 ou na Alemanha em 1932/33 -.

No entanto, a História, apesar de ser um inesgotável acervo de exemplos, é como um grande depósito de memórias com muitos maus zeladores ou guarda-livros. Há sempre quem se esforce por omitir certos factos e acontecimentos quando a divulgação ou conhecimento dos mesmos não é conveniente. Eis, então, porque movimentos políticos e/ou religiosos considerados marginais e irrelevantes há dez ou vinte anos ameaçam hoje tomar conta do poder em várias partes do globo, quer através de meios democraticamente reconhecidos - eleições -, quer através do recurso à força bruta e sanguinária - guerra -.

Na Europa, génese das primeiras ditaduras, concretamente as que surgiram no tempo da República Romana, antes do Império, a questão bélica que sucede em regiões não muitos distantes deste continente não pode ser desprezada no que toca à tomada do poder. Basta recordarmo-nos do que sucedeu há pouco tempo nos Balcãs, península que "curiosamente" faz parte da Europa.

Repare-se, por exemplo, na França actual. Repleta de "cavalos de Tróia", a pátria do Iluminismo e da Razão, caminha airosamente para o abismo, situação agravada pelo conjuntura económica dos dias de hoje: de um lado, c. 10% - valor em constante crescimento - da actual população professa a religião islâmica, sendo muitos desses crentes verdadeiros mas camuflados extremistas; do outro, a extrema-direita usa tudo isto para ter cada vez mais peso e influência política na sociedade, nomeadamente nos centros onde existem maiores desigualdades sociais. Não se pode olvidar que Hitler foi democraticamente eleito!...

Fazendo um apanhado transversal dos mais diferentes - e diabólicos - exemplos que existiram ao longo dos tempos - correspondendo a esmagadora maioria destes ao século XX -, Pedro Rabaçal cativa igualmente o leitor graças a uma linguagem e estilo em que conjuga a dura realidade dos factos com pormenores picarescos e grotescos pouco conhecidos do grande público para aligeirar uma certa tensão gerada com a descrição de acontecimentos deveras macabros, muitos deles dignos de figurar no "Inferno" de Dante. Como disse uma vez o ostracizado dramaturgo polaco Stanislau Lec, "quando já nada nos faz rir, surge a sátira"...

Não omitindo os bilionários negócios que envolvem grandes multinacionais com sede e origem em países considerados exemplares quanto à defesa dos direitos humanos com indivíduos que nunca tiveram qualquer pejo em matar a sangue-frio milhares - ou até milhões - de compatriotas, o autor aborda também a questão da chamada "Primavera Árabe", não se coibindo de demonstrar que a culpa de grande parte dos males que afectam a maior parte dos países muçulmanos advém do Ocidente, dos seus líderes, das suas políticas e negócios envolvendo descaradamente esses déspotas. Desde que haja petróleo e armamento pelo meio, todos os acordos são desculpáveis!...

Em suma, hipocrisia e cinismo são as grandes "virtudes" actuais dos regimes do Ocidente democrático, sendo que foi daqui, desta Europa, que surgiram os modelos de algum modo inspiratórios - Sula, Cromwell e Robespierre - para os futuros prosélitos quanto a métodos de gestão do "bem público". No entanto, os feitos destes déspotas descritos nas primeiras páginas desta obra são modestos face aos dos seus sucessores e sucedâneos. Afinal, tudo não passa de uma constatação da teoria de Charles Darwin da evolução das espécies: as gerações posteriores são tendencialmente mais "evoluídas" para poderem superar a selecção natural e assim sobreviverem num mundo impiedoso. Talvez seja por isso que Estaline, segundo consta e face à maneira como governava implacavelmente o seu "império", terá dito que "mais não sou que um bom aluno de Lenine.""

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